quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A NATUREZA DO ESCORPIÃO. - Retirado do Blog Torcedor Coral



 
 


Faz tempo, cheguei a triste conclusão que o nosso Santinha não sabe aproveitar um bom momento. Há uma necessidade mórbida, que se sobrepõe a todas as outras coisas, de amarelar ou desfazer o sorriso na boca dos torcedores para jogar tudo para o alto, pois é da natureza de nossos dirigentes pôr em risco qualquer trabalho minimamente proveitoso para lançar nosso clube, mais uma vez, num mar de incertezas.

A propalada união, palavra abstrata e destituída de sentido, verificabilidade e operacionalidade pragmática, que povoa a inocência dos tricolores e o discurso dos dirigentes, desfez-se mais uma vez. Essa ruptura mostra, acima de tudo, que as aproximações de grupos tão díspares têm como alvo, só e somente só, as eleições. Passado o processo eleitoral, as divergências, os interesses pessoais e o ciúme tratam de dar cabo às aparências.

Pois bem, no dia 1º de dezembro, Joaquim Bezerra, Vice-Presidente do Santa Cruz, deixou a Diretoria Administrativa e Financeira, sob o pretexto de falta de tempo, em razão da expansão de seus negócios pessoais, de acordo com nota oficial da Assessoria de Imprensa do Santa Cruz.

Aí a notícia, contudo, carece de exatidão. Nos bastidores do clube, o que se ouve é outra coisa. O problema seria interno; a questão, política. O Vice teria se ressentido das constantes interferências do Presidente no Departamento Financeiro, sua área de atuação, sem consultá-lo previamente. Tais interferências teriam resultado na nomeação de um funcionário para atuar nas finanças do clube em concorrência ao próprio Joaquim Bezerra e na demissão do Gerente Financeiro, um dos homens de sua inteira confiança. A gota d’água teria ocorrido na quinta-feira, 1º de dezembro, com a nomeação do novo Gerente Financeiro, também sem discussão prévia com o Vice-Presidente.

De partidários de Antônio Luiz Neto, ouvi a justificativa de que ele teria delegado poderes demais ao Vice e agora estaria tentando trazer novamente para si algumas responsabilidades. Do outro lado, a palavra de ordem seria o ciúme. O Presidente temeria o surgimento de uma nova liderança no Santa Cruz, capaz de fazer-lhe sombra em futuras eleições.

A Joaquim Bezerra são atribuídos a boa gestão administrativa, a redução de gastos e o controle mínimo das finanças do clube. Não sei atestar se tudo isso é verdade, pois estou longe, muito longe, do poder, mas o fato é que o Santa Cruz voltou a ser visto como bom pagador, não apenas em relação aos jogadores, mas também aos fornecedores. Portanto, em sendo tudo isso verdadeiro, seu afastamento beira o desastre.

Não há dúvidas que cabe ao Presidente, acima de tudo, o direito de determinar quem fica à frente de quê ou como as coisas são conduzidas dentro do clube. Cabe-lhe delegar poderes, como também retirá-los, se considerar conveniente ou necessário. Entretanto, se os eventos ocorreram tal qual tomei conhecimento, houve aí inabilidade política e também a falta de coragem para botar as cartas na mesa. Além do mais, é da regra do jogo respeitar os acordos feitos antes da eleição.

Longe dos bastidores do clube desde a gestão passada, já não sou capaz de apontar, por minha própria conta, com um grau mínimo de certeza, o que, de fato, se passa dentro das Repúblicas Independentes do Arruda. Na ocasião, era conselheiro atuante, conhecedor, portanto, do intricado jogo de poder. As decepções com a gestão FBC, que aparece bem na foto para boa parte da torcida coral, mas que na prática foi um grande fracasso, me deram a percepção de que nem tudo é o que parece. Por isso, não me arrisco a botar a mão no fogo por um ou por outro, pois quem pariu Mateus que o embale. Entretanto, é inegável reconhecer que esta pedra foi cantada aqui mesmo, há um mês, ocasião em que alertávamos para um processo em marcha, que podia gerar cisão entre dois pesos-pesados do clube.

Seja qual for a causa da dissidência, não resta dúvida que há um grande equívoco em todo esse imbróglio. Diante de um ano positivo, sobra a sensação de desconfiança e de risco iminente de que tudo desande, no apagar das luzes, pois os dirigentes do Santa Cruz possuem a natureza do escorpião, como na parábola.

Na parábola, o escorpião deseja atravessar o rio e, para tanto, pede ajuda a rã. O anfíbio, desconfiado, se recusa, pois sabe que o escorpião, na primeira oportunidade, dar-lhe-á uma ferroada mortal. Sob a lógica do escorpião, que argumenta que se tentar matá-la durante a travessia, também morrerá, já que não sabe nadar, a rã se propõe a ajudá-lo, mas tão logo chegam à metade do caminho, sente o ferrão cravar-lhe o dorso. Ferida de morte e na sua perplexidade, a rã pergunta-lhe a razão, já que ambos morrerão. Com a proximidade do fim, o escorpião resignadamente responde:

― Desculpe, minha cara, mas é da minha natureza.

Do Blog Torcedor Coral


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